Uma estória é uma narrativa de ficção baseada em factos puramente imaginários.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Natal... e agora... 2006!

"Natal Chique"

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na minha pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéro desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado...
Só esse pobre me pareceu Cristo.

Vitorino Nemésio

Passou a época do ano que desperta os mais nobres sentimentos e que polvilha os nossos corações com pó de perlimpimpim. Mas como o poema de Vitorino Nemésio realça esta época é por vezes bem mais consumista do que feita pelo verdadeiro amor que fica trancado a sete chaves no baú velho escondido no sotão da casa.

...e agora?

Agora chega 2006 e espero que venha acompanhado daquele sabor maravilhoso do que é antigo mas não velho, e cheio do sentimento que todos conhecemos mas que muitas vezes evitamos nomear... amor... para que a magia dos tempos idos, dos contos (des)conhecidos e dos momentos sonhados possa este ano aquecer-nos um pouco mais, enquanto saboreamos as 12 passas, formulamos os desejos mais secretos e brindamos ao ano que agora se inicia.

FELIZ 2006

Pensamento do dia

"O amor tem sempre de ser posto à prova!"

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Phenomenal Woman

foto de Ricardo J. F. Tavares

Pretty women wonder where my secret lies.
I'm not cute or built to suit a fashion model's size
But when I start to tell them,
They think I'm telling lies.
I say,
It's in the reach of my arms
The span of my hips,
The stride of my step,
The curl of my lips.
I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.

I walk into a room
Just as cool as you please,
And to a man,
The fellows stand or
Fall down on their knees.
Then they swarm around me,
A hive of honey bees.
I say,
It's the fire in my eyes,
And the flash of my teeth,
The swing in my waist,
And the joy in my feet.
I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.

Men themselves have wondered
What they see in me.
They try so much
But they can't touch
My inner mystery.
When I try to show them
They say they still can't see.
I say,
It's in the arch of my back,
The sun of my smile,
The ride of my breasts,
The grace of my style.
I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.

Now you understand
Just why my head's not bowed.
I don't shout or jump about
Or have to talk real loud.
When you see me passing
It ought to make you proud.
I say,
It's in the click of my heels,
The bend of my hair,
The need of my care,
'Cause I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.

Maya Angelou

Dedicado a todas as mulheres, em especial aquelas que têm a sua auto-estima mais em baixo (o que depois da quadra natalícia não é difícil!).


segunda-feira, dezembro 26, 2005

Os olhos

foto de ACapela
Os olhos que cruzam os meus na rua
são verdes, azuis e castanhos.
Mas nenhuns são capazes de me levar à lua
como quando olhos meus
cruzam os teus.

Quando meus olhos encontram os teus, amor,
não conseguem parar de brilhar.
É algo que vem de dentro,
do meu interior,
algo que não consigo parar de espelhar.

Os olhos de hoje não são os mesmos do passado,
e ao mesmo tempo são.
Porque por muito que eu tenha andado
quando meus olhos junto aos teus estão,
continuam a amar-te.

sábado, dezembro 24, 2005

Feliz Natal

foto de André Mendes

Hoje acordei com o barulho que a minha mãe fazia a tirar as loiças dos armários. Estava na cama e ouviam-se as pessoas na rua que carregavam as últimas compras e que comentavam o aspecto do bolo-rei deste ano. Liguei o telemóvel e estava cheio de mensagens sobre paz e amor. Levantei-me e fui conduzida à cozinha por um cheiro maravilhoso a canela. No tacho estava a acabar de ser cozinhada a aletria. Chegara mesmo a tempo de a poder provar e constatar como estava doce. Era a minha vez de ajudar, pois como minha mãe diz tenho de aprender para um dia também poder fazer. Envolvi-a com ovos caseiros, porque são mais amarelos, dão mais cor à aletria e afinal de contas também se come com os olhos. Voilá estava pronta, agora era só por na travessa.
Passei a manhã assim, entre rabanadas, mexidos (ou formigos como se diz na terra da minha mãe) e sonhos. Tomei um banho rápido para tirar o cheiro a fritos do meu corpo e vesti uma roupa vermelha, porque neste dia visto sempre vermelho. Depois de almoçar é altura de escrever uns últimos cartões, embrulhar umas últimas prendas e esconder as prendas dos míudos, pois elas não estão em casa dos avós mas sim na casa do Pai Natal. Depois fui buscar o bacalhau que estava de molho em casa da minha avó porque as suas costas já não lhe permitem carregar o peso, fiz uns últimos telefonemas, até que meu pai chegou com o bolo rei. Agora é hora de ir a casa de algumas pessoas desejar bom natal e distribuir prendas, para depois começar a preparar a requintada mesa natalícia e esperar que a casa se comece a encher de calor humano e alegria. Ainda bem que é Natal e estamos todos juntos!

sexta-feira, dezembro 23, 2005

A tua voz

A tua voz...

Entrou no meu quarto pela janela,
Juntamente com o ar da madrugada.
És tu? Levanto-me, acendo a vela.
Era sonho. Madrugada malograda!

A tua voz...

Não cabe em toda a minha mão,
Nem cabe em toda a minha alma.
O tempo gasta-a como ao pão,
Mas fica terna, fica mais calma.

A tua voz...

Na planície rasa surge o luar,
E longe já se vai a luz do dia.
Abri todas as portas par em par.
Não vieste! Ai que estou tão fria!

Truz,truz,truz... "És tu?"
Respondem...

A tua voz.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Portas da percepção

foto de Esther
Dezembro... Um frio descomunal, minhas mãos estão roxas de tão geladas que estão. Fecha-se um ciclo para outro se iniciar. O infinito. Sim, porque quando não se sabe onde está o fim só se conhece o infinito, mesmo que seja uma última porta à nossa frente. Cada porta que se abre traz um mundo desconhecido sequioso por ser descoberto. Às vezes gostamos do que vemos, outras não; às vezes somos surpreendidos, outras apenas conhecemos o gosto amarga que tem a desilusão. Mas isso é que é viver e assim como só conhecemos o frio porque conhecemos o calor, só conseguimos ser surpreendidos e sorrir porque sabemos o que é a tristeza e a desilusão. Tenho pensado se tudo na vida que experimentamos só o conseguimos definir porque conhecemos o seu oposto, o seu antónimo. Será que só há escuridão, porque há luz? Que só há amor porque há ódio? Que só há frio porque há calor? Que se conhece as saudades porque se está perto daquilo ou de quem se poderá ter saudades, mas também já se esteve longe?... Que só há morte, porque há vida?

domingo, dezembro 18, 2005

Quem me dera que hoje, como nunca antes, nevasse

Nunca quis que o vento te levasse,
Nunca, nunca quis que partisses.
Mas agora que chegou a hora,
Para sempre negarei a verdade.

Nunca quis que a tua luz se apagasse,
Nunca, nunca quis que morresses.
Mas agora que te foste embora,
Para sempre ficará a saudade.

Quem me dera que hoje, como nunca antes, nevasse,
Quem me dera que o vento p'ra junto de ti me levasse.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Pais Natal

Claro que todos nós já reparamos durante o caminho casa-trabalho-casa na quantidade absurda de Pais Natal que se encontram pendurados nas varandas, ou por uma corda ou numas escadas. Mas há aqui qualquer coisa contra-natura, pois o Pai Natal não "estaciona" no telhado o seu trenó para entrar pela chaminé? Então porque é que por esse país fora se vê o Pai Natal a trepar paredes? Tenho pensado sobre este assunto ultimamente e tenho chegado a algumas teorias/conspirações:
1) Isto tudo não passa de uma ideia dos chineses que por trabalharem tanto não têm tempo para comemorações e não devem saber que o Pai Natal usa como meio de transporte a coisa mais óbvia do mundo que consiste num tréno puxado por renas voadoras e que entra em casa das pessoas pela chaminé (portas e janelas são coisas do século passado). Assim, depois das famosas bandeiras portugueses com castelos fraudulentos durante o euro2004, os chinocas conseguirem impingir-nos mais uma gama de produtos made in China aos portugueses.
2)Isto tudo também poderá ter começado entre uma brincadeira de adolescentes que usavam o fato velho de Pai Natal que estava no baú do tempo em que o pai precisava de usar uma almofada na barriga para se fazer passar por Pai Natal e enganar os sobrinhos e filhos. A ideia oficial (entenda-se versão a contar aos pais) era fazer algo original para o Natal! "Hmmm... Um Pai Natal de pano e almofadas velhas em tamanho original! Os vizinhos vao morrer de inveja!" Mas à noite, enquanto os pais viam descansadamente a 1ª Companhia na televisão e o gato saltava de sofá em sofá de tão histérico que estava a ouvir a estridente voz da Júlia Pinheiro, o filho vestia-se de Pai Natal e descia da janela do quarto pela corda ou escada.
3)"Last but not least" e na minha opinião esta será a versão mais pausível. Então, imagine-se que em vez do filho que se escapa de noite da casa dos pais para beber umas cervejas e estar com umas miúdas, a ideia é usada por ladrões que trocam a velha meia na cabeça e a roupa preta, por um gorro vermelho, uma barba branca e um fato vermelho? Bem ninguém notaria a diferença, pois não? E se por acaso alguém visse o Pai Natal do vizinho a mover-se ia pensar que era uma nova versão animads e no dia a seguir ia a correr até à loja dos chineses ao fundo da rua (sim porque eles estão em todos os cantos), para comprar um que também se movimente e quem sabe que até fale e cante!

terça-feira, dezembro 06, 2005

Como é que se sai de uma teia?

foto de Erik Reias


A aranha do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.

Fernando Pessoa

Quantas vezes não nos encontramos aprisionados numa teia?
Olhamos e não há aranha em parte alguma para nos comer!
É então que pensamos como é que caímos nessa mesma teia,
Como é que nos tornámos prisioneiros do nosso próprio viver.


quinta-feira, dezembro 01, 2005

Acordar

foto de António Stª Clara

Chove lá fora, chove muito... Ouço o vento a bater assustadoramente na janela do meu quarto. Quem bom hoje não ter de me levantar ao som estridente do despertador. Quem bom que é poder afundar-me nos lençóis, ouvir a chuva lá fora enquanto num estado de dormência os pesamentos voam e se confundem com os sonhos. De repente, o som de algo que cai e rebola pela rua abaixo, provavelmente um caixote do lixo vazio. Os carros que passam e espalham a água que desliza fortemente pela rua abaixo fazem me estremeçer e acordar do estado de dormência para rapidamente voltar a entrar no mesmo transe...

Hmmm.... Fecho os olhos e sinto o teu cheiro. Deve estar entranhado na minha pele (ou na minha memória).

Quem bom que era se estivesses aqui....